Diário de Bordo

No aprazível jardim da Casa Museu Bissaya Barreto, uma surpresa estava reservada aos participantes. O Mestre Gelateiro Pedro Baptista presenteou-nos com um sorvete de vinho [O Borracho,Vinho de Sicó],com chocolate rosa e frutos silvestres. A COSÌ a educar o gosto! Deliciosa entrada para aquilo que nos aguardava já no interior da casa. Um verdadeiro «banquete dos sábios», assim nos soube a conversa, muito animada, entre Virgílio Nogueiro Gomes e Paula Barata Dias.

Catarina Peixinho, ao piano, Leonor Barbosa de Melo, no canto e Cláudia Carvalho, a dar voz aos poetas [Pablo Neruda, Vinicius de Moraes e Manuel Alegre], fizeram-nos esquecer uma tarde chuvosa, bridando-nos com um magnífico recital que encantou o público e cujo repertório, cuidadosamente alinhado, transportou-nos para o universo de Fauré, Strauss, Tchaikovsky, Schumann, Beethoven, Wolf e Chopin. Escutámos músicas e canções que celebram o vinho [sobre o tempo da vindima ou os efeitos do vinho em quem o bebe] e a liberdade, aqui evocando por inteiro Fernando Lopes-Graça.

A jornada foi intensa. Primeiro, um regresso à infância, com a visita, competentemente guiada por Elisabete Lopes, ao Portugal dos Pequenitos. O pretexto foi explorar o Solar do Douro, sendo certo que percorremos toda a área deste notável equipamento lúdico e didáctico que faz, como testemunhámos, as delícias das crianças, mas encanta igualmente os adultos. Daqui rumámos à Mercearia do Cordel, onde nos aguardava o «Mata-Bicho», primeira etapa de “Um dia na Vindima».

Fortes como a terra / Leves como o ar / Puros como o fogo / Fluidos como água. Mais de uma centena de pessoas esteve na Praça do Comércio a assistir (e a vibrar e a cantar e a aplaudir) os Sons do Douro que pela primeira vez actuaram em Coimbra. O público, atraído pelo chamamento dos quatro elementos da imensidão de um Douro sublimado, descrito por Miguel Torga, «prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir.

Foi na encantadora e original Livraria Bruaá, alojada no Convento São Francisco, que aconteceu o Concerto de Leitura Vínico. Miguel Gouveia, com notável mestria, sentido cénico e voz clara, brindou-nos com uma criteriosa escolha de textos, nos quais o vinho, «essa vassoura de cuidados», foi incontornável protagonista. A escuta atenta provocou o riso e a atenção sobre as palavras, com as suas múltiplas mensagens e sentidos. O bruaá fez-se escutar com o ruído dos aplausos vigorosos no final da sessão.

A arquitectura e a fotografia no lançamento de O Mundo do Vinho. As fotografias com que Nelson Garrido explorou a integração na paisagem da obra de quatro arquitectos com projectos de vinhas (publicadas em papel e no digital para o jornal Público, onde o fotógrafo trabalha) preenchem agora, até 30 de Novembro, a realidade física da igreja românica de São João de Almedina, no Museu Nacional de Machado de Castro. E a edição de 2024 de O Mundo do Vinho começou com uma exploração d’«a relação estética e o apurar da arquitectura com o desenvolvimento dos vinhos», como disse Nelson Garrido.